Arte Outsider – o que é
Jean Dubuffet, “L’Art Brut préféré aux arts culturels”, Galerie René Drouin, Paris, 1949
Paula Rego, Dezembro de 2010
A Arte Outsider além de bastante diversificada, não corresponde a um estilo ou a um movimento. Assim, para sermos breves, a Arte Outsider identifica-se desde logo pela sua diferença temática e pela sua originalidade formal em relação à arte institucionalmente aceite, ou “oficial”, de várias épocas ou movimentos. Também, geralmente, pela utilização de outros materiais e técnicas personalizadas, por vezes com alguma sofisticação. E ainda, fundamental no conceito, a Arte Outsider é criada, na grande maioria dos casos, por autores autodidatas, isolados ou sem ligação com a arte convencional, e é fruto do sentir profundo do autor: daí a sua inventividade, autenticidade e espontaneadade. Só parte da arte de doentes com perturbação psíquica (episódica ou não) se enquadra na Arte Outsider: estes doentes criam também arte naive e arte convencional, ou próxima dela. Por outro lado, deve também realçar-se que só uma parte da Arte Outsider é produzida por autores com perturbação psíquica, como se infere do conceito de Jean Dubuffet, facto comprovado pelas obras de grande número de artistas outsider não-doentes. Note-se ainda que, ao contrário da arte naive, também produzida por autodidatas (com temática, expressa com minúcia, versando sobretudo a paisagem ou o quotidiano), o autor outsider não tenta basear-se na arte convencional. Com o extraordinário florescimento da arte institucionalmente aceite, ao longo do século XX (em muitos casos por influência da arte outsider …), verificou-se algum esbater de fronteiras. … Enfim, identificar, e também determinar com rigor o valor relativo da multifacetada Arte Outsider requer estudo crítico e conhecimentos alargados, não só deste tipo de arte, das obras e dos seus autores, bem como da chamada arte institucionalmente aceite, seu contraponto. A DESIGNAÇÃO EM PORTUGUÊSJean Dubuffet identificou e conceptualizou a arte, discriminada pela sociedade, que chamou Art Brut, marco importantíssimo para o seu reconhecimento e salvaguarda. A palavra “brut” foi utilizada no sentido prevalecente em francês, de “crua”, ou “não cozinhada” (pela cultura ou padrões). Em Portugal o pequeno círculo que utilizou o termo, traduziu-o como Arte Bruta (por vezes sem conhecer exactamente o respectivo conceito). Opomo-nos a essa designação, não só por ser uma tradução errada, como principalmente pelo seu pendor depreciativo, ou mesmo ofensivo, quer para obras quer para autores. Optámos por escolher a designação Arte Outsider, a mais utilizada internacionalmente, tal como outras palavras estrangeiras adotadas em português no domínio das artes (design, arte naive, arte deco, etc), perante a inexistência de palavra ou designação apropriada, na língua portuguesa. |